Frequentemente nos deparamos com frases de impacto que nos fazem refletir sobre a possível gravidade e morbidade de diversas doenças clínicas e psicológicas. Mas até que ponto nos atentamos para essas informações que nos chegam diariamente na grande mídia, até que ponto discutimos e refletimos sobre seu impacto em nossas vidas.
Geralmente, nos parecem fatos distantes, “que só acontece com o outro e ninguém de nosso convívio passa por isso ou virá a passar”, entretanto, quando menos esperamos nos deparamos com situações que chegam como um entardecer, lentamente, naturalmente, sem grandes explicações.
Repentinamente, nos percebemos sem energia, sem vontade em realizar atividades antes muito prazerosas, sem prazer em cuidarmos do outro e de nós mesmos, com uma vontade imensa de distanciar-se até mesmo das pessoas mais queridas, chegando em algumas circunstâncias e maltratá-las e pedir para que se afastem, o choro que antes tinha uma motivação, agora já não parece necessitar de qualquer lembrança triste, vem sorrateiramente até quando fazermos esforços para contê-lo. De repente nos pegamos com pensamentos negativos, com um sofrimento tamanho e sem explicação que dificulta que continuemos estudando, trabalhando ou mantendo um contato social mínimo.
As pessoas que nos cercam, geralmente, não entendem o que está acontecendo: “Onde está aquela pessoa tão cheia de vida?” e mesmo sem perceber começam a nos cobrar “Seja forte, você consegue vencer essa depressão”. Entretanto, por mais que busquemos forças, até mesmo de onde não encontramos, temos dificuldades em melhorar e isso nos atormenta ainda mais, pois agora já me sinto culpado pela atual condição “Sou um fracassado”, “Sou inútil”, “Será que vale a pena continuar mesmo vivendo? ”.
Esse é o curso clínico de muitas pessoas que estão enfrentado uma Síndrome Depressiva, daí a necessidade de conhecer para não excluir e, principalmente, ajudar.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 9,5% das mulheres e 5,8% dos homens passarão por um episódio depressivo num período de 12 meses, mostrando uma tendência ascendente nos próximos vinte anos. No último relatório da OMS, a depressão se situa em quarto lugar entre as principais causas de ônus entre todas as doenças, e as perspectivas são ainda mais sombrias. Se persistir a incidência da depressão, até 2020 ela estará em segundo lugar.
A etiologia é multifatorial, havendo concordância que fatores genéticos, neurobiológicos e psicossociais contribuem para o desenvolvimento e manutenção do quadro.
A preocupação atual com o diagnóstico é muito grande, porém pesquisas demonstram que, em média, 50% das pessoas que chegam à rede básica de saúde com sintomas de depressão não recebem diagnóstico e tratamento corretos.
Assim, é fundamental que a cada dia espaços sejam ofertados para discutir e psicoeducar a população sobre um tema tão prevalente e que ainda é tão cercado de tabus e mitos. Entender que assim como doenças clínicas, a depressão necessita de intervenções terapêuticas que vão desde educação física, oficinas culturais, oficinas de música, de expressão corporal, de dança, caminhadas no bairro, além de atendimento Psiquiátrico e Psicológico.
Por vezes, são necessárias intervenções farmacológicas; felizmente, nos dias atuais o arsenal terapêutico disponível não tem tantos efeitos colaterais como outrora e vários estudos apontam sobre a eficácia e melhora funcional com o tratamento adequado por tempos bem delimitados. Aliado a isso, é fundamental que alguns aspectos psicodinâmicos E psicossociais sejam trabalhados em um processo de atendimento regular pela Psicologia.
Se a depressão é o mal do século? Talvez não seja o mal do século, mas certamente é uma doença que traz muito sofrimento e dor, angústia e culpa, isolamento, desprazer e desesperança. Assim, não podemos apenas vê-la sem intervir, devemos manter uma postura ativa e producente.